sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ASSOMBRAÇÃO

Uma noite dessas eu estava no ponto. Doido para fazer uma corrida para o Aeroporto. Para eu aproveitar para lavar e abastecer.
Foi quando saiu a corrida pela Coopertáxi.
- Unidade para atender a Rua José Luis Pereira, 435
Eu mais do que depressa peguei a corrida.
A corrida foi liberada para mim e eu fui para corrida.
Só que como era de madrugada eu entendi o nome da rua errado e fui para outro endereço.
Eu fui para a rua José Pereira.
Acontece que a rua José Pereira é pequena, e não tem esse número.
Chamei a menina que estava operando o rádio e perguntei do número. Ele me disse que o número tava certo e repetiu o nome da rua.
Daí eu vi que eu tinha feito confusão. E eu tinha o tempo de 15 minutos para embarcar a corrida. Senão eu tomava um gancho de 24hs.
A minha sorte é que as ruas ficam no mesmo bairro. Mas, tive que correr muito para poder chegar até a residência em questão.
Bom, quando eu cheguei e achei o número eu chamei a central.
- Por favor central, vem com o numeral novamente aqui da residência.
- 4...3...5... . Disse a central já meio irritada.
- É que eu estou aqui já faz 5 minutos e não sai ninguém. E já está vencendo o horário. Mentindo eu disse. Pois eu tinha acabado de chegar.
- Espera mais um pouco. Falou a central.
- Ok !
Por causa do barulho do carro ligado e eu conversando com a central naquele horário, abriu-se a janela da casa.
Era uma senhora já de idade.
Eu mais do que depressa perguntei:
- Foi a Sra. quem pediu um Táxi ?
- Não meu filho, aqui ninguém pediu Táxi não. Respondeu a velhota.
Então, chamei a central e perguntei o nome da pessoa que tinha pedido o Táxi.
- Bernadete. Copiou ? Bernadete.
- Copiado.
Voltando-me para a janela disse para a Senhorinha.
- O Táxi é para a Bernadete, Sra.
- Espera um pouco.
Avisei a central que a mãe da mulher tinha dito que a tal Bernadete já vinha, e que era pra eu esperar um pouco.
Logo a porta abriu.
Era a velhinha. De pijama e touca. Óculos de grau. Uma sapatilha já bem velha.
- Que brincadeira é essa? Disse a velhinha, bem brava.
- Que negócio é esse de você vir a minha casa de madrugada para fazer isso comigo.
- Não to entendendo minha Sra. eu só recebi uma chamada para atender a esse endereço para embarcar a Bernadete.
- Olha garoto. A Bernadete é minha filha e ela já não mora aqui faz mais de 5 anos.
Daí, fiquei com medo de perguntar onde a dita morava. Só faltava a anciã dizer que ela morava no cemitério. Fora isso, eu já tava pensando nos KM que eu tinha perdido, na gasolina e que eu não ia fazer a corrida.
- Era mora em Salvador e já não nos falamos a mais de 5 anos.
- Puxa, que pena! Já disse desanimado.
- Ela casou e foi embora. Foi embora brigada com agente e nunca mais ela veio aqui e também nem nunca mais nos falamos.
- Então, tá bom. Desculpe o incomodo e boa noite para Sra.
- Boa noite. Respondeu a velhinha meio chateada.
Daí eu liguei na central e contei a estória. Ela me disse que essa corrida tinha sido agendada durante o dia. E brincando disse que era para eu mandar rezar um missa em memória da tal Bernadete. Rimos e fui lavar e abastecer o carro. Puto porque não tinha feito nenhuma corrida.
Passados exatos 13 dias depois desse ocorrido a central me chama.
- Liga aqui na central, urgente !
Já pensei. O que eu fiz dessa vez.
A central tava me comunicando, que a mesma velhota, mãe da Bernadete tinha ligado lá. E que a filha dela tinha falecido naquela noite em que eu tinha ido lá atender a corrida.
Pensei que a Bernadete quisesse me usar de alguma forma que eu ainda não entendi. Mas, talvez para dizer para mãe que ela sentia a falta dela e que ela sempre estava na sua memória. Ou talvez outra coisa que foge a minha reflexão.
Rezei um pai nosso, e segui fazendo minhas corridas.

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